conversávamos sobre loucura. e cada um concluía, um pouco mais, que loucos somos todos. mas conversávamos sobre as loucuras dos outros, a cabeça dos outros, nos outros, os outros. o primeiro tempo foi fácil enquanto não mexíamos com os nossos devaneios, Meus detalhes são normais, os outros, loucos. a loucura acaba fácil esconder quando está nas nossas caras - é um entedimento tácito, um subentendimento, é aquilo que sabemos, mas é claro que não vamos falar. falamos. e o segundo tempo começava intempestivo, as palavras saindo como um tapa e um alívio, mas saíam bem e fluíam - e naquele momento discutíamos nossas próprias convicções. êxtase. as palavras para quem devia ouvi-las - os que já as sabiam - e ainda assim para os quais era difícil dissertar. a nós mesmos e às nossas loucuras. um tempo breve e no seu fim um Quem não usa de seus devaneios?, Quem os têm por amor?, e Quem não os têm, somente?, bom o momento em que - um silêncio - a consciência fez com que os absurdos alheios nos apontassem os dedos na cara e perguntassem como vamos, como quem manda revisar seus desvarios, os seus desvios. e nós vamos bem, devaneando um pouco e sempre, e com isso mais reais, mais reais ainda. como nós, como os outros, como os certos, quando o homem sentado a minha frente diz que os certos são aqueles que sabem bem administrar suas loucuras.