27 de set. de 2009

e me pôr a pensar que, como a minha farsa, não é só a morte que é indesculpável - e o que faço com toda essa minha estupidez não deixa de ser certa forma de matar-me aos poucos e para logo concluir se, quem sabe, não é essa proporção da morte o que define a própria vida

17 de set. de 2009

talvez confessasse que já não sei mais quantas horas por dia tenho esperado teus passos e há quantos dias têm se repetido a mesma cena insípida de quem tanto quer falar e tão resignadamente cala - de como me expresso mal e desdigo sem jeito os últimos murmúrios - e espero por horas e dias e instantes que tanto quis e tanto, tanto, tanto que fossem todos teus - e no entanto permaneço aqui, parada, porque não sabes de meu tempo e nem de mim e porque me desfaço pacientemente em horas de te ver passar e porque passas - sempre passas - enquanto ainda sou inerte, branca e tão inofensiva, tão renunciável, tão despercebida que já não sei mais contar as horas e as coisas enquanto minhas últimas palavras calam e meu silêncio esmaece o gosto com que passas e transformo em confidências os teus passos distraídos

porque fiz da eternidade minha espera