12 de nov. de 2009

ah, meu coração

ah, meu coração, se soubeste que ainda ontem rolei insone pela última lembrança e mais algumas que inventava para trocar de cena entre teu riso tímido, teu aconchego noturno, a carência da minha manhã mais clara. (já foram tantas xícaras de café em tua homenagem que já não sei se durmo ou mais acordo com a memória de tuas mãos. e já foram tantas delas que não sei se não é tua a minha insônia, meu batimento apressado, minha liquidez. mas pensava - e já foram tantas, tantas, tantas xícaras...)

3 de nov. de 2009

tentei fazer um café mais fraco que o habitual, talvez pela força dos últimos comentários. meus óculos sujos, um pouco de fome, o desespero de uma ficção. a raiva do dia, o aprisionamento, o medo da verdade: eu só queria uma simples ficção. para confirmar os medos e desconfianças todas, não consegui. só tinha comigo uma xícara de café mais fraco, os olhos ardendo pelos óculos de lado, uma ideia. sei pensei em uma pessoa livre – não falava de realidade, do todo, dos diários alheios. ainda me veio qualquer coisa em reproduzir algum diálogo: provavelmente, uma personagem pouco menos indefinida (talvez de óculos sujos ou amargando um café fraco) se encantaria. perguntaria as coisas do ar livre como perguntava o príncipe à raposa que lhe diria que nos tornamos eternamente responsáveis por alguma coisa quando na verdade e tanto mais e ainda pior. mas a minha estória teria o encanto da dúvida, do desejo, da liberdade. liberdade invejada; uma liberdade que é minha vontade de sê-la. e, se tivesse um fim, qualquer coisa feliz, uns óculos mais limpos, um café mais forte. uma pergunta de como fazer a vida - ser. de como era a casa, o estar, as roupas - de que se faziam os sonhos dessa personagem livre. mas era uma ideia interminada, qualquer coisa sem meio, sem caminho. só de dúvida. fim do café e desisti, definitivamente, de escrever. não saberia trilhar o caminho, acender um sentido, parecer história. ficou a pergunta intrigada de como e a vontade de entender a resposta que almejei: - mas não há o que ter comigo. a liberdade sou eu.

27 de set. de 2009

e me pôr a pensar que, como a minha farsa, não é só a morte que é indesculpável - e o que faço com toda essa minha estupidez não deixa de ser certa forma de matar-me aos poucos e para logo concluir se, quem sabe, não é essa proporção da morte o que define a própria vida

17 de set. de 2009

talvez confessasse que já não sei mais quantas horas por dia tenho esperado teus passos e há quantos dias têm se repetido a mesma cena insípida de quem tanto quer falar e tão resignadamente cala - de como me expresso mal e desdigo sem jeito os últimos murmúrios - e espero por horas e dias e instantes que tanto quis e tanto, tanto, tanto que fossem todos teus - e no entanto permaneço aqui, parada, porque não sabes de meu tempo e nem de mim e porque me desfaço pacientemente em horas de te ver passar e porque passas - sempre passas - enquanto ainda sou inerte, branca e tão inofensiva, tão renunciável, tão despercebida que já não sei mais contar as horas e as coisas enquanto minhas últimas palavras calam e meu silêncio esmaece o gosto com que passas e transformo em confidências os teus passos distraídos

porque fiz da eternidade minha espera

12 de ago. de 2009

I.
não sei qual a medida de meu rosto. descubro com as mãos as incertezas das formas, vou delineando o desgaste das horas, o instante que insiste, a dificuldade das pálpebras.
foram tão poucas as horas que passaram, mas como me passaram todas elas.

II.
consigo sentir as maçãs do rosto, o formato de meus lábios, o gosto das lágrimas.
tem o mesmo gosto úmido da espera.

III.
ainda pertenço a cada vestígio que reconheço entre meus dedos.
estou inteira - eu, que nem sei o que é tudo em mim.


IV.
meus traços escondem lonjuras

6 de ago. de 2009

pensava na vontade insaciável de te ver. era uma brasa que reascendia do meu depósito inominado de registros permanentes. do desejo mal acabado pensava que me encontrei pensando outra vez. quem sabe é o frio da tua sombra que me faz irresignada, a tua cara virada enquanto eu te admiro, o sentimento sem nome que já chamei de qualquer coisa que não me importava mais (e só não chamei de sentimento). quem sabe é o teu humor gélido que mantém minhas mãos suando frio, teu corpo imóvel diante de meus braços em descontrole, daquela vontade que permanecia já nem só em te ver quando eu já queria te ser inteira. do meu autocontrole em repensar teus movimentos enquanto somes por aí sem mim. da minha risada alta porque agora estou sozinha, do meu corpo vazio que já não se contenta assim tão fácil. da tua resistência que mais alimenta essa coisa sem nome – e me escabela enquanto ainda penso e suo frio e movimento os braços e morro de saudade daquela tua cara, daquele teu desprezo, da minha solidão nefasta atirada num canto do corpo que – eu já nem lembrava - ainda era todo teu

11 de jul. de 2009

e essa letra tão pequena, tímida, como fosse rubra.
essa letra é só inquietude por dentro

10 de jul. de 2009

agora me passava a medida do teu rosto entre meus seios
o conforto disfarçado em rigidez pela batidas na porta
o teu afago rude
a tua cara lavada;

mas ainda sobra um resto de vinho nas taças quebradas
o teu único cigarro subentendido no cinzeiro da sala
e a imensidão do teu culto que não me furtei em compartir

13 de jun. de 2009

8 de jun. de 2009

(mas abano instintivamente pra qualquer lugar. essência. e então deus não é um senhor bondoso me esperando na esquina pra ignorar minhas blasfêmias, para me ler por dentro, para me perdoar indubitavelmente)

5 de mai. de 2009

acordei chorando. e como se o dia me tivesse sentido, há pouco me penetrava uma chuva fraca que - entre tantos outros possivelmente angustiados por aí - traguei tão certa de que só eu me entenderia

11 de abr. de 2009

loucura mesmo, que a mim também parece estranho largar o livro no meio da frase, olhar pro teto, perder a mira, o raciocínio e as mãos apaixonadas na almofada. mas não se trata de paixão. é só um parar demais, um pensar demais, um sair largando livros e frases incompletas pela casa, pelas horas, por aí

7 de abr. de 2009

uma porto alegre de outro tempo, por um desconhecido

cadê palavra que te traga daquela calçada?_

_

17 de jan. de 2009

observo a janela fechada como quem guarda imagens duvidosas projetadas logo atrás. e acredito como quem professa. estou sentada - a cabeça tão cheia de pontos marcados, de interrogações ruidosas, do desespero quase habitual. são três horas e quarenta e quatro minutos. não sei há quanto tempo além disso fixo a janela.

passa uma vida pelas frestas.