2 de jan. de 2014

desamparo


a calçada ressona no segundo andar.

mulheres de batom
derramam vinhos clandestinos
à beira de paralelepípedos,
casais de meia idade carregam suas bolsas
de supermercado,
suas dúvidas financeiras
e não me ajudarão.

atravesso a rua
para pedir açúcar:
há uma lágrima de engolir memórias
acendendo os cigarros
da última estante.

às tardes,
sigo quebrando pequenos copos,
gastando as horas em frases de desprezo
que dedico a estranhos:
não posso comprar água em garrafas
enquanto a chuva me derrama
na janela.

mudo cadeiras de lugar,
consolo azulejos
para despovoar cicatrizes

os ponteiros incólumes da parede
teus pés no mesmo número da rua
cinza
de saudade.