11 de fev. de 2010

I. quarta xícara de café após a última notícia. não sei o número do dia. algumas conversas intercalam as lamentações ruidosas. quinta xícara desesperada. sou incapaz de naturalizar as perdas. descubro os olhos infantis e alcanço apenas um retrato sobre a caixa, um corpo gélido, um rosto inchado.

II. e o que eu tenho é medo, incontinência, despreparo. sequer um deus para enganar a morte. das vidas grosseiramente talhadas, guardo só incompreensão.


III. dor do verbo interromper.

4 de fev. de 2010

era silêncio quando a chuva quente gretou o vazio, a imensidão do tempo e logo tornou viva minha pele arrepiada. tinha cheiro de terra aquela sensação úmida e minha respiração tranquila de para quem há pouco tão pouco valia suspirar. e era brando o gosto da água em minha língua morna e seu percurso entre meus dentes, a sugestão de meu rosto, o gozo da alma tocada. era doce.

(a chuva, terna, sempre me comove por inteira: o alívio não suporta timidez.)