tenho segurado estes dias
como contenho expectativas,
uma a uma,
a observar teus passos
e gravar teu sorriso
mais apressado:
- também vou bem,
vou bem, e então
(sente aqui ao meu lado
que eu quero cantar o refrão
que me lembra você).
e tenho fingido, obtusa,
que não decorei essas voltas,
as passadas inteiras,
a poesia guardada
em olhos que eu descreveria
anatomicamente,
disfarçando, em voz alta,
o lirismo piedoso
da memória.
tenho aniquilado desejos:
não quero pensar
se você soubesse
o que guardo sob frases de encontro
se você pensasse
sorrindo, em premissas não correspondidas
se você notasse,
com esses olhos que descrevo,
que meu silêncio quer
te escrever inteiro.
29 de out. de 2010
10 de out. de 2010
se sou tão eu enquanto me vejo agora de olhar perdido, remexendo os cabelos para acordar tua imagem forte (como também eram fortes teus braços em minha volta e como era macio ainda tocá-los feito boba, tão perdida em tuas dobras) e exausta em teu corpo tão teu, que inominado e solto como tu tes fostes e de suor amargo como me amargou tua ida. e sou tão eu que me percebo sacudindo cabelos para abafar tua memória - porque é de mim guardar os teus detalhes, teus traços firmes, o cheiro do meu quarto quando meu quarto era teu e eu ainda era a cama, o ruído, a espera. e sou tão eu que ainda espero mexendo em cabelos e restos enquanto, depois de ti, só me sobrou (mãos, dedos, cabelos, ânsia, quarto) tua falta.
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