guardei os vestidos
e dois ou três pares de sapatos
recapitulei o lugar imóvel
dos teus cadernos
os lugares de esquecer
as xícaras
as prateleiras irrepetíveis
em pensamento
gastei minutos devagar:
a mala inacabada diante da porta
o mofo agonizante dos bilhetes
das listas de supermercado
do tom de voz
às segundas-feiras:
o gosto azedo da véspera
molhando a língua.
eu já sabia da ferida
cravada na porta
eu abriria os ruídos
pés sobre paredeso suor dos corredores
no verão
eu já sabia, eu diria,
da demissão do poema.
eu só não sabia
que à beira do fim
fazia mais frio.
5 de dez. de 2014
20 de jul. de 2014
poema para a palestina
mulheres e crianças
e homens e mulheres e crianças
correndo com seus passaportes inviáveis
crianças e homens
e mulheres
atendendo telefonemas letais:
vocês, seu filhos, as próximas
gerações
de homens e mulheres e crianças
estéreis,
bichos sob a cerca encerrada não há
mais lugar nesse mundo
para homens e mulheres
e seus filhos
e seus parentes distantes
não há mais lugar
para cumprir destinos:
há que se cumprir a velocidade da veia
rasgada
derramar o suor
alimentar a terra aos berros
há que saber tocar teu pulso cerrado
contra diagnósticos e bombas
dizendo
não digo vida
digo liberdade não há
arma para desfazer pulsos
mulheres e crianças
e homens
abraçando a terra
dizendo teu nome:
teu sangue a germinar desertos
flor que berra pra nascer
e arde
e homens e mulheres e crianças
correndo com seus passaportes inviáveis
crianças e homens
e mulheres
atendendo telefonemas letais:
vocês, seu filhos, as próximas
gerações
de homens e mulheres e crianças
estéreis,
bichos sob a cerca encerrada não há
mais lugar nesse mundo
para homens e mulheres
e seus filhos
e seus parentes distantes
não há mais lugar
para cumprir destinos:
há que se cumprir a velocidade da veia
rasgada
derramar o suor
alimentar a terra aos berros
há que saber tocar teu pulso cerrado
contra diagnósticos e bombas
dizendo
não digo vida
digo liberdade não há
arma para desfazer pulsos
mulheres e crianças
e homens
abraçando a terra
dizendo teu nome:
teu sangue a germinar desertos
flor que berra pra nascer
e arde
10 de jun. de 2014
atrás de mim,
contei três invernos,
a mesma inquietude apressada
em descer e roubar tijolos,
em decorar o ritmo dos dedos
sobre a mesa,
o modo de pedir café,
o gosto de álcool para apressar
a pergunta
sua utilidade precisa
para aguçar as mãos.
atrás de mim,
sei do ócio inventado nas perdas,
essa mania de chutar cacos à revelia
em esperar que a calçada evapore
vidros
que aprenda lições
como se esquecesse
atrás de mim, talvez tenham mudado
os cabelos, a minha saia bordada
as tuas cores em giz,
anúncios de amor
e signos, talvez
a árvore diante da tua casa
não tenho bem certeza
mas continuo com a mesma altura
cuidando pouco das dúvidas
ignorando dívidas
compromissos
prazos de validade
a cantar com os dedos
o gosto úmido do presente
atrás de mim, vim
cruzando dezembros, sentei
em alguma parte
do caminho
a catar-me os pedaços:
a madrugada faminta
do mesmo tapete
a saliva descrita nas maçãs
do rosto
a parede paciente
a revolver veludos
a abarrotar cansaços
e meias-
noites.
contei três invernos,
a mesma inquietude apressada
em descer e roubar tijolos,
em decorar o ritmo dos dedos
sobre a mesa,
o modo de pedir café,
o gosto de álcool para apressar
a pergunta
sua utilidade precisa
para aguçar as mãos.
atrás de mim,
sei do ócio inventado nas perdas,
essa mania de chutar cacos à revelia
em esperar que a calçada evapore
vidros
que aprenda lições
como se esquecesse
atrás de mim, talvez tenham mudado
os cabelos, a minha saia bordada
as tuas cores em giz,
anúncios de amor
e signos, talvez
a árvore diante da tua casa
não tenho bem certeza
mas continuo com a mesma altura
cuidando pouco das dúvidas
ignorando dívidas
compromissos
prazos de validade
a cantar com os dedos
o gosto úmido do presente
atrás de mim, vim
cruzando dezembros, sentei
em alguma parte
do caminho
a catar-me os pedaços:
a madrugada faminta
do mesmo tapete
a saliva descrita nas maçãs
do rosto
a parede paciente
a revolver veludos
a abarrotar cansaços
e meias-
noites.
2 de jan. de 2014
desamparo
a calçada ressona no segundo andar.
mulheres de batom
derramam vinhos clandestinos
à beira de paralelepípedos,
casais de meia idade carregam suas bolsas
de supermercado,
suas dúvidas financeiras
e não me ajudarão.
atravesso a rua
para pedir açúcar:
há uma lágrima de engolir memórias
acendendo os cigarros
da última estante.
às tardes,
sigo quebrando pequenos copos,
gastando as horas em frases de desprezo
que dedico a estranhos:
não posso comprar água em garrafas
enquanto a chuva me derrama
na janela.
mudo cadeiras de lugar,
consolo azulejos
para despovoar cicatrizes
os ponteiros incólumes da parede
teus pés no mesmo número da rua
cinza
de saudade.
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