a gente sempre dançava abraçados no meu apartamento
e jurávamos um bocado de belezas para a vida
(ainda juramos toda vez)
até que o otávio partiu:
almofadas sujas, livros empoeirados, aquele cedê gravado de canções que guardei com um carinho bonito, como é o bonito o sorriso que fecha os olhos para depois ouvir caetano com a intensidade do abraço. era o que tinha ficado. observei aquelas caixas que sempre nos abraçavam enquanto cantávamos que alguma coisa acontece no meu coração e nos jurávamos cruzar avenidas entre aquelas promessas de eternidade que nunca precisamos cumprir - a verdade é que sempre precisamos de tão pouco, fomos nós mesmos com tão pouco, que dessas amizades até se diz que são inteiras, que são plenas como os poemas que os minutos recitam para amaciar essa distância que é tempo, mapa, escolha: uma força semelhante àquela que a gente acreditou que tinha - e tínhamos - entoando músicas do chico entre tantas aspirações e aqueles sonhos que só comparte quem aprendeu a dançar de olhos fechados
(há quase setecentos dias escuto aquelas caixas
agraciando as horas.
alimento de que me permito viver,
momento por momento,
indefinidamente)
sonho
e é de música a tua ausência.