pretos e pobres entraram em um shopping
que como todos os shoppings
não levantou tijolos para pretos e pobres
celas foram fundidas para pretos e pobres
& também para aqueles brancos pobres
que o baiano já cantou que de tão pobres
são quase todos
pretos
muitos pretos, todos juntos,
ofendem as paredes
brancas: humilhem-nos
retirem-nos
chamem de averiguações
maltratem os pretos e pobres pelo crime imperdoável
de terem ultrapassado os partos
de suas mães pretas
de não terem calado ainda cheios
de sangue
de terem tocado tambores
de descerem os morros com seus funks
resguardem-nos do medo
que temos de pretos
e pobres
porque não nos importa se pretos e pobres
sabem do que é medo
se os pretos e pobres
não devoraram nossas sacolas
novas
como canibais
se os pretos e pobres cometeram qualquer coisa
porque afinal são pretos e pobres
e não há crime pior do que cometer ser preto
sempre preto e tão pobre
matem os pretos e pobres
não temos culpa se são todos pretos e pobres
são apenas pretos e pobres
todos pretos e pobres
pretos e pobres
pretos e pobres
2 de dez. de 2013
19 de abr. de 2013
inventário
catapora, dor
de dente,
quatro pés na bunda,
duas bicicletas,
máquina de lavar
roupas,
dezesseis poemas
vinte e quatro
anos
e posso dizer
que consegui, na vida,
uma janela - pequena
vista para o mundo,
carregar
esta pena.
de dente,
quatro pés na bunda,
duas bicicletas,
máquina de lavar
roupas,
dezesseis poemas
vinte e quatro
anos
e posso dizer
que consegui, na vida,
uma janela - pequena
vista para o mundo,
carregar
esta pena.
16 de abr. de 2013
procurava ocupar o vazio
da estante
inventando sítios para tantos panos,
tuas roupas dobradas fora do quarto:
aloquei cada camisa
como quem se procura
em teu corpo,
solucei - uma a uma -
antecipando a despedida,
aguando teu perfume,
supondo teu ímpeto em desfazer
tentativas.
busquei nos vãos da madeira
as brechas de vida
que refaço: dois dias,
vinte noites, mil e duzentas semanas
espreitando as batidas da porta.
como sufocar tuas veias
para implorar piedade:
aguardar seis horas,
atravessar a sala,
esquentar o café outra
vez.
da estante
inventando sítios para tantos panos,
tuas roupas dobradas fora do quarto:
aloquei cada camisa
como quem se procura
em teu corpo,
solucei - uma a uma -
antecipando a despedida,
aguando teu perfume,
supondo teu ímpeto em desfazer
tentativas.
busquei nos vãos da madeira
as brechas de vida
que refaço: dois dias,
vinte noites, mil e duzentas semanas
espreitando as batidas da porta.
como sufocar tuas veias
para implorar piedade:
aguardar seis horas,
atravessar a sala,
esquentar o café outra
vez.
17 de mar. de 2013
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